9.08.2009

Erika e o dever como devir

Erika brincava sozinha. Seu brinquedo era um misto de dedos e teclas de um piano. Erika praticava horas por dia e seu divertimento era expresso no piano. Vibrava o piano como extensão do corpo de Erika. Aquilo lhe trazia um brilho, mas apenas quando brincava e mostrava seu modo de brincar.
Daí uma inversão. O piano como o melhor corpo para Erika. Erika-piano-vida. Um devir-clássico de dramas e tragédias de outros tempos e nomes no corpo de quem inventou para si apenas uma brincadeira. No corpo de quem não repartia o brinquedo. Tem gente que brinca de correr, de nadar, de nada fazer, de estudar, de trabalhar, de outros modos de brincar, de modo exclusivo. Não se inventa o mesmo brinquedo duas vezes, sem que a brincadeira se repita. Brincadeira é diferença, mais que repetição.
Enxergar repetição não é coisa fácil, pois ela é óbvia e por isso não estranha. Muitas vezes é preciso sangrar a repetição. Matar um corpo que só sabe brincar de uma coisa. Pra mim, hoje, Erika é algo que vem e nos diz isso. Quando a esperança é audiência, melhor seguir outro caminho.
Abraço!

3 comentários:

- priscilla. disse...

sair da repetição não é fácil, exige um novo olhar, um tempo,uma angústia, uma curiosidade, e uma dor (...) no segundo movimento, aí vem o gozo, o prazer que está na diferença, na invenção do brincar.

Kleber disse...

Pois é Priscilla, eu fiquei contagiado pelo movimento da Erika. Há uma força brutal, viva, que trai as espectativas, por isso se faz bela. Ia matar o inviável amante e mata a própria inviabilidade que lhe habitava. Inventa assim uma brincadeira. Abraço!

Elen disse...

o filme de Érika me pareceu uma brincadeira e tanto!!! um instrumento que admite diferentes tipos de brincadeira!!! um instrumento que não se repete! fantástico!