9.02.2009

Discussão sobre "O Escafandro e a Borboleta "

A discussão não teve uma estrutura bem definida, as pessoas (ao contrário da discussão anterior) tiveram uma postura um tanto mais retraída e silenciosa.
No início da discussão, com as pessoas ainda deprimidas com as cenas finais, foi um tanto difícil que as pessoas colocassem em palavras o que sentiram durante o filme. Os primeiros comentários giraram em torno de uma "dor de empatia" em relação ao protagonista do filme (
Jean-Do). Foi algo bastante doloroso para turma colocar-se no lugar dele, em uma situação de total mercê à boa vontade dos outros, podendo comunicar-se somente por psicadelas (e de um olho só!). A dor teve início quando ele acorda numa cama de hospital totalmente debilitado e cercado por estranhos, os quais o pedem para fazer coisas que naquele momento não faziam o menor sentido. Como se nada pudesse piorar a condição em que se encontrava, ele acabou por ter um dos olhos costurados por um médico (como uma medida de prevenção de algum problema ocular), enquanto assistia tudo aquilo sem poder fazer nada a respeito (nem agonizar). Era um pesadelo do qual não conseguia acordar.
Surge então a questão de como ele enxerga o mundo e a questão de como o livro e o filme (feito a partir desse livro) poderiam, cada um de sua forma, representar a situação de Jean-do (uma situação real). Afinal, seria nesse caso o livro mais rico que o filme? Os recursos de uma câmera (simulando uma visão em primeira pessoa) que o filme proporciona chegam a formar imagens infinitamente superirores ao que a nossa imaginação construiria com umas poucas frases?
Na situação desesperadora em que ele se encontrava, não faltariam pessoas que prefeririam morrer. Mas não foi bem isso que aconteceu... os médicos então, por um juramento, por decisão da família, ou por maldade mesmo (por que não?) não deixaram o coitado morrer. Foi nesse momento da discussão que surgiu a questão: Afinal, que vida é essa que os médicos prolongaram? Não estariam eles criando uma nova vida?
Então diz Jean-Do "tudo que tenho é memória e imaginação" para si mesmo e para os outros. Agora ele não era mais o mesmo homem, o mesmo sujeito, mesmo indivíduo. Tendo que se reconstruir a partir das cinzas (porém sem jamais voltar a ficar inteiro) ele parecia que iria desistir de tudo. Ele era agora uma fênix que foi condenada a viver no pó. Esse ponto da discussão foi bastante interessante. Afinal, o que o motivou a não desistir de tudo? A cortar relações com todos? Tudo o que temos como resposta do filme é uma frase dele: "parei de sentir pena de mim mesmo", mas ela, em si mesma, não é um motivo muito bom para continuar vivendo. Ele então, a fênix pó em agonia, escreve um livro e se torna alguém digno de ser lembrado (mesmo que não pelo livro, mas pela força de vontade em escrevê-lo). A turma começou então a especular sobre essas razões... uns diziam que ele se agarrara a aquilo que o tornava humano (seguindo o conselho do amigo que fora raptado), que o fazia por orgulho (para não sair como um desistente) ou mesmo por causa dos filhos e da "amante". Nesse contexto da imaginação, ainda foi colocada a questão de ele, ao usar-se dela, podia vijar pelo mundo, comer diversos manjares e dormir com a mulher que quisesse (e realmente era quase que só isso que ele podia fazer).
Por último, surgiu a questão da relação que ele tinha com a tradutora dele, uma peça chave do "quebra-cabeça" que foi montar o livro dele. Teria o livro sido escrito sem a paciência e o amor daquela mulher?

Será que depois dessa enxergaremos as piscadelas como um recurso meramente retórico? Como um artifício de sedução? E como disse James, hajam piscadelas...


Um comentário:

Kleber disse...

Caro, pelo meio de seu texto, vc diz da questão que mais me toca agora. A possibilidade de dizer. Fico a imaginar um outro filme, onde as pessoas pudessem se conectar aos primeiros pensamento de Do. Ele podedndo contra-argumentar aos médicos e terapeutas de modo contínuo. Apostaria noutros encaminhamentos. A perda da fala não foi nele perda da linguagem. Muitas fezes temos fala, mas não dizemos. Negligenciamos aquilo que é fundamento para o viver. Há um valor na comunicação. Qual? Jean-Do soube. Abraço!