11.25.2009

Por uma floresta de etcétera

Havia um homem que plantava árvores. A vida lhe permitiu essa atividade. Ele a assumiu como uma virtude. Plantar o que o retrado do chão não espera. Diariamente plantava. Escolhia sementes e percorria um ermo espaço, metodicamente enterrando-as na terra. Durante a semeadura, o que imaginava esse plantador? O desenho-filme permite suposições. Fiquei desinteressado delas. Não havia desespero ou esperança naquele homem. Havia a força que persevera quando tudo parece perdido. Força que não se rende a palavras que geralmente mentem. TUDO e PARECE.
Aquele sobrevivente no tempo vivia o seu tempo como árvore. Árvores parecem estar sempre ali. Apenas parecem, pois as árvores migram. Como dizem Matura e Varela, a natureza se inventa. O plantador sabia disso e inventava a sua própria natureza, a ponto de um amigo-narrador da história supor que ele brincava de deus.
Brinvaca de plantar, de plantar como homem. Brincava de plantar como quem não espera colher. Um devir-criança. Daí a sua beleza!
Foi bom estar com vocês nessa semeadura que carrega dentre outras coisas o nome de Tópicos Especiais em Psicologia Social e Institucional/sala de reuniões do DPS-UFS. O que plantamos? Conversas repartidas, letras num blog e alguma coisa que atenda pelo nome de etcétera. Nela nos encontraremos. Tenham meu abraço!

11.17.2009

Discussão - O Grande Chefe

Um "chefe" que para não ser desafeto de seus funcionários com suas atitudes nada respeitáveis inventa um outro chefe, chamado curiosamente de " O chefe de todos".
Assim, este é encarregado de ficar com o ônus do cargo enquanto Ravn é amado por todos.

Um ator fracassado que só se sente feliz quando está interpretando um personagem, esquecendo até de viver sua própria vida.

E um bando de funcionários esquisitos que trabalham numa empresa há anos sendo que nunca viram o chefe.

Nessa comédia irritante - como disseram alguns, bailam máscaras.

Cada um só enxerga o que lhe convém para que o seu mundinho não seja pertubardo, assim é importante que todos cumpram seus pápeis e sejam bonzinhos.
E o Ravn cuida muito bem de todos os detalhes para que tudo saia assim, até inventa um chefe para cada funcionário de acordo com os perfis dos mesmos para que estes possasm se identificar com o desconhecido e assim não notarem muito sua ausência.
Só se pode tirar as máscaras nos bastidores, quando ninguém tá vendo, aí a funcionária do RH pode ter um caso com o chefe, a tímida recepcionista pode se apaixonar e planejar casar com o mesmo e Ravn pode roubar a todos e planejar vender a empresa.

Caramba! Como ninguém percebeu isso?
Ou melhor, porque é tão importante para todos não perceber isso?

Coitado do Kristoffer! Preocupado com o destino de seu personagem não viu que não era o único que estava atuando.

Ei..! Isso não era para ser um filme sem pretensões reflexivas?
E porque nos deixou sem muito o que falar na discussão?
O Silêncio? Só James explica!

Mas depois de uma sessão de filmes patrocinados pela familia vingança, foi muito bom!
Termino meu texto com a melhor frase do filme:
"O outono é escuro!" (não podia falta, né?! )

11.14.2009

O Grande Chefe - Lars von Trier





O filme O Grande Chefe do cineasta Lars Von Trier começa com o reflexo de uma grua de filmagem nas janelas de um edifício, paralelamente contextualizado por uma narração dizendo que apesar deste reflexo, o filme não é para reflexão. Na verdade o narrador diz que é uma comédia que não ensina nada e não há nada que se possa acrescentar.

O enredo do filme é bastante irritante, pois o processo de seleção de imagens, de posição das câmeras, o enquadramento e a seleção de som foram feitas por um computador automatizando o processo de fotografia. Isto faz com que em diversas cenas os enquadramentos sejam cortados e sem sentido. O filme não tem trilha sonora, apenas os sons ambientes. Os planos do cenário são estáticos e o sett é o escritório. Desta forma, Lars Von Trier tenta ‘provar cinicamente ao público’ que o ser humano não é necessário.

A comédia niilista perpassa através da interpretação de um ator que faz o papel de um “grande chefe”. Função esta, inventada pelo próprio dono da empresa que não simpatiza com idéia de se tornar impopular, pois gosta do papel de chefe carismático. Desta forma, ele contratou um ator para que possa tomar as decisões impopulares.

Não demora muito, para que o ator passe a gostar do personagem e alertado pela ex-mulher, começa a se incomodar com os problemas éticos da empresa. Nestes personagens são satirizados os funcionários “medíocres e padrões” em diversas organizações, que muitas vezes alienados pelo sistema fazem parte de uma mais valia capitalista.

O executivo inescrupuloso da empresa dinamarquesa planeja vender a sua empresa, porém não inclui nenhum dos funcionários em seus planos. E como ele fundou a empresa com dinheiro roubado dos próprios diretores, ele não tem coragem de contar a verdade. Ele se nutre da fama de bom chefe e inventou para os funcionários que o ‘verdadeiro’ chefe mora nos EUA, omitindo assim suas responsabilidades.

Em meio a improvisos do ator chefe de todos, ele começa a sentir realmente a responsabilidade de seu papel e tenta amenizar os conflitos dos funcionários obrigando o executivo a confessar suas decisões aos funcionários. Ele o faz, porém como um bom canalha, o envolve ainda mais, dizendo que idéia teria partido do chefe de todos. Neste jogo-de-empurra de quem seria o verdadeiro chefe e frente a venda da empresa o executivo confessa seus atos inescrupulosos e os funcionários o perdoam por sua sinceridade.

Neste ínterim de atos ‘sentimentalistas dinarmaquês’, o ator não se satisfaz com o final feliz, entra em uma crise de personagens e decide vender a empresa. Afinal o executivo não poderia sair do inferno para um final feliz. A advogada da empresa do executivo Islandês, que é a ex-mulher do ator Kristoffer, se irrita com toda essa confusão prolixa, lembra ao executivo Islandês que “quem negocia com homens sem caráter não negocia com ninguém”, na tentativa de encerrar o negócio. Porém, o executivo pondera dizendo que o Kristoffer tem essa suposto autorização e ele quem está com o poder no momento.

Enfim, a empresa é vendida e os funcionários são demitidos. O filme termina com o monólogo dos limpadores de chaminé.

Parafraseando o filme “...Gostaria de me desculpar, para aqueles que queriam mais e para aqueles que queriam menos. Aqueles que conseguiram tudo o que queriam tiveram tudo o que mereceram.”





Beijão pessoal !






Michelle Andrade

11.05.2009

Lady Vingança - discussão

(Bom, depois de caírmos em cima de James por causa do projetor...kkk)
O filme foi bem aceito pela galera e a discussão fluiu.
A maior parte dela se deu em torno das imagens onde a cor vermelho aparecia de forma destacada, como a mancha no rosto da personagem principal (Geum-Ja) e o bolo repartido ao final do filme.
Essa cena em particular foi apontada como de fato mto importante, já que surgiram mtas especulação a respeito. O fato de ter-se cantado parabéns nessa cena, nos indicou uma comemoração pelo fato de ter acontecido a morte do assassino e torturador das crianças (Sr. Baek), mas o que surgiu a partir do decorrer das nossas falas era a possibilidade de o bolo ter sido feito com o próprio sangue do Baek. Essa possibilidade gerou inquietação em todos nós, porque seria uma real possibilidade, já que em uma parte do filme Geum-Ja é dita como uma excelente cozinheira, daquelas que conseguem transformar os piores ingredientes e de pior qualidade em coisas incríveis (pratos deliciosos)!!!
Uma outra discussão girou em torno do porquê da tal vingança tão programada por treze anos da vida de Geum-Ja. Alguns chegaram a dizer que o fato de ela reunir todas as pessoas que irriam se sentir sensibilizadas ao ponto de quererem participar teria sido para diminuir sua culpa pela morte de Baek. Mas depois de muita conversa e comentários que foram feitos, passamos a pensar na possibilidade de ela ter quisto compartilhar não somente da responsabilidade pela morte, mas também, compartilhar do sentimento de Vingança pelas crianças assaassinadas por ele. Talvez por isso que casa um tinha o seu momento (e seu Kit-assassino! kkk - momento discontração) de poder se vingar. É como se as coisas acontecessem bem devagar para que causasse muito sofrimento nele.
Falando em sofrimento, lembrei da cena em que ele está amordaçado e ouvindo, imobilizado, à reunião na qual todos discutiam o que seria feito com ele! Comentamos ser essa uma cena importante! A angústia de se ver sendo assassinado, antes mesmo de isso estar acontecendo. Ouvir a preparação dos detalhes e todos os comentários tão cheios de ódio que eram ditos por aqueles pais...

Enfim, conversamos bastante!!!
Faltou Kleber:)

11.04.2009

Lady Vingança

Pensada e repensada, milimetricamente calculada, eis que surge uma nova prática terapêutica: a vingança. O politicamente correto é posto em cheque, direitos humanos para quê? Afinal, o ser-monstro já violou o direito do outro. Nada de cela especial ou cadeia limpinha, afinal o ser-monstro sempre será monstro, isto está na sua essência, e além do mais, temos direito a nossa vingança. Nada vai mudar: o crime não deixará de ter sido praticado, o ser-monstro não será reeducado/ressocializado, mas deixar que ele apodreça até a morte - seja numa cela insalubre ou nas mãos de um carrasco - irá diminuir nosso sofrimento, economizaremos então nos psicotrópicos e nas idas e vindas ao psiquiatra (porque psicólogo mesmo só se for para o ser-monstro, evitando que este não se revolte e acabe num suicídio, assegura-se assim que ele sofra durante todo o tempo que lhe foi conferido). Além de funcionar como prática terapêutica há mais uma vantagem, a vingança também funciona como instrumento de segurança pública na medida em que torna invisível o tal ser ao meio social, surge então o lema quanto mais vingança mais segurança. Quem sabe a partir desta nova e tão antiga prática terapêutica um mundo perfeito pode ser então produzido.

10.21.2009

Phi (pequeno comentário)

Comentários ilógicos ou seria lógica sem comentários. Taí a primeira coisa suscitada após assistir Phi. O filme é um misto de racionaliadade com loucura. Mostra a história de um matemático que procurava a norma subjacente que controlava a bolsa de valores, já que acreditava que a lógica matemática está presente em tudo. Nesse diapasão, é seguidor de alguns matemáticos que incumbem à matemática a prerrogativa de explicar o mundo, até mesmo os fenômenos sociais. Max, o personagem principal do filme, é absorvido em seus próprios pensamentos de encontrar a norma que regia a bolsa de valores; sendo levado às raias da loucura. Quando então percebe que, ou abandonava o projeto almejado ou abandonava a si mesmo; acaba por abandonar o projeto e talvez perceba que na vida, muitas vezes, a lógica é não ter lógica subjacente. Obs: Se você não entendeu alguma parte do comentário, então você entendeu o filme.

10.19.2009

A (i)logicidade de PI - Parte Primeira

Legendas que sobem. A música que toca ao fundo. As palmas se fazem ausentes. O riso, tampouco, mostra-se. Mas há o silêncio, a inquietação, o olhar inquiridor de um para o outro. As palavras que não se fazem ouvir. pensamentos conflitantes. Há negações e afirmações. Sobre o que trata o filme mesmo? Todos se fazendo a mesma e trágica pergunta.
Padrão, a falta dele, loucura, matemática, alucinação. Seria dessas coisas que fala o filme? Não, não pode ser. É muito surreal. Não conseguimos apreender o que vimos utilizando-se de nossa lógica. Certo é que filme é sempre filme; as imagens foram percebidas, mas a estória, essa sim, é a fonte da inquietude.
Não é para menos: um filme que versa sobre padrão, quebrara o nosso próprio. Claro. É evidente. Não teria sido essa a intenção primeira de quem o idealizara? Talvez nunca o saberemos. Mas, concedamos, a nós mesmos, a chance de pensar livremente; como deve ser feito. Transportemo-nos para fora de nossos corpos - um exercício de imaginação. O que vemos? esse seu primeiro pensamento está correto. Sim. Agora o compartilhe: observamos um grupo que, com certa frequencia, reune-se em dado dia e local, para discutir texto ou filme. Aí é que está, porque esse é um modo padrão. Ou, não é a rotina um padrão? Não segue ela uma norma? Quão difícil seria para outro, reproduzir o que fazemos? E a razão (no sentido de proporção), que rima por sua vez com padrão, não é o que existe entre os números e que lhes dá existência? Não é através dela que reproduzimos, por exemplo, a sequência de Fibonacci?
Seguimos, talvez por conveniência, ou mais por conformismo, um phi que criamos para nós. Dizemos de um número que parte de dentro e que pode ser visualizado nas ações do dia-a-dia. Através dele, pesamos e pensamos todas as coisas. Uma ruptura nesse padrão (falemos em phi interno, já que nos demos permissão para o livre pensamento) - uma frase lida, situação presenciada, filme visto... - gera desconforto e implica na busca de um novo parâmetro a ser seguido. Este, só pode ser construido se houver certa logica que o subisidie.


De certo modo, a procura da matemática em desvelar o enigma que é a realidade, utilizando-se de símbolos e caracteres próprios, tem sido encarada como loucura. Veja-se, por exemplo, gênios da física e da matemática prestarem-se a essa alcunha: Arquimedes, Einstein, Tesla, entre outros. Em "PI", tal idéia é ainda mais evidenciada quando o protagonista, Max, tenta encontrar uma lógica subjacente à bolsa de valores.
Observamos tabém em Max Cohen, a figura do ermitão que serve a uma causa e almeja a iluminação através do conhecimento. O recluso. A sabedoria fora da sociedade. A sabedoria além-mundo. A imagem do cientista anti-social em sua busca, a todo custo, pela verdade.


10.12.2009

Hoje é dia das crianças que dia mais feliz!

Alô, alô criançada! O Bozo chegou! Epa, não... Não sou o Bozo e pra falar a verdade a figura do palhaço sempre foi um enigma para mim... O que é um palhaço? Nariz redondo e vermelho, roupas coloridas e anda, escorrega, levanta, cai, alegria! Faz piruetas, brincadeira! Doidejo, folia, sempre exagerados, irreverentes, insolentes, engraçados!? Desesperadamente felizes... Enfim... O que o Bozo e os palhaços têm a ver com Hounddog e essa disciplina? Nada. Não tem nada a ver, eu acho.
A verdade é que o filme nos traz uma imagem da infância, correndo atrás de coelhos*, mas não como a Alice, que por curiosidade ingênua corre atrás do seu coelho que corre contra o tempo, e acaba caindo num país maravilhoso. Lewellen caça o coelho, será que ela conseguiu pega-lo? É a imagem da inocência roubada, que ao invés do país maravilhoso cai no vazio e aprende a lidar com ele, inocência perdida.
Infância tem a ver com inocência! com doces, brincadeiras, complexo de édipo e dia das crianças!! Mas afinal de contas por que reservaram exatamente hoje para ser dia das crianças? Bom... vamos ao google. Nada animador pessoal! Esse dia foi instituido pelo Sr. Deputado federal Galdino do Valle Filho na década de 1920 e só pegou mesmo porque a fábrica de brinquedos Estrela e a Johnson & Johnson resolveram lançar uma promoção pra aumentar suas vendas... Comércio. Isso me lembra o “caso Maisa” (links http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u588522.shtml ; http://www.youtube.com/watch?v=CpRAcOHgqmw ; http://www.youtube.com/watch?v=dAbwPD-7NhI ), não sei se estou chovendo no molhado, mas acho esse caso emblemático; O Sr. Pai-comerciante-perverso e a garotinha que vai levar doces para a vovozinha, tento não divinizar a infância mas mercantilizá-la é triste.
Bom… acho que já falei demais, mas antes de ir queria desdizer o que disse no primeiro parágrafo; Algumas crianças gostam de palhaços, e palhaços tem a ver com infância que tem a ver com Hounddog que por sua vez tem a ver com essa disciplina. Acho que faz sentido. Isso é tudo pessoal!

*You ain't nothin' but a hound dog
Cryin' all the time
Well, you ain't never caught a rabbit
And you ain't no friend of mine

10.02.2009

Era uma vez...

I

Era uma terça-feira como outra qualquer. Inteligência despertou cedo, alongou-se durante alguns minutos, preparou dois ovos mexidos, com pouco sal, acordou dois pães adormecidos e coou um café forte, mas bem doce. Um banho demorado e uma rápida seleção do que vestir seguiram seu banquete frugal. Empilhou cinco ou seis livros, colocou-os debaixo do braço de uma maneira meio desengonçada – como um moleque ainda não acostumado ao corpo – e foi à biblioteca. Até lá, cruzou com um e outro conhecido – visto que é homem de conhecimento – com os quais trocou um rápido aceno de cabeça. Um “bom dia” pra cá, outro pra lá. Como não se imiscuía na vida de ninguém, desejava-lhes coisas. “Bom dia” ao porteiro da biblioteca, “bom dia” aos seus companheiros de estudo, “bom dia” àquela atendente estranha que sempre sorri quando ele vai devolver os cinco ou seis tomos devorados semanalmente. Inteligência é um rapaz deveras garboso, embora pareça não ter sabedoria disto. Olhos grandes e atentos, um rosto fino sempre a carregar uma barba por fazer, passos pesados e lentos. Alto mas não muito, magro mas não muito, bonito mas não muito. De fala grave e pausada, sempre acompanhada duma retórica romana, é capaz de tornar convincente qualquer falácia que quisesse, embora se orgulhe de só anunciar verdades. Chegando às estantes empoeiradas, seleciona outros cinco ou seis livros. Um tratado de ontologia clássica, uma coletânea com poemas do Goethe, um artigo sobre a relatividade restrita, um álbum de fotografias da 2ª guerra e um e outro livro que sempre levava sem saber do que se tratava. Era sua maneira de descobrir coisas novas. O moço era – como o mesmo costuma dizer – “aberto às novidades”. Sai do acervo; ruma, novamente, à atendente estranha que não pára de sorrir enquanto o persegue com o olhar; registra os livros e vai embora. Era, como já disse, uma terça-feira como outra qualquer...

II

Inteligência desceu os degraus que levavam à área verde da biblioteca e rumou ao tronco de carvalho – a árvore do conhecimento, como o chamava – que descansava aos pés duma minúscula lagoa assustadoramente cristalina que lhe refletia o sol. Uma belíssima clareira, aquela. Era seu locus secreto de labor e oração e, como sempre acontece em todas as manhãs de terça-feira, estaria vazio à sua espera. Estaria! Falei bem! Quem era aquela criatura a ocupar seu refúgio não lhe interessava. Bastava pronunciar algumas palavras envoltas em mel e tudo estaria resolvido.

Chegando junto ao velho madeiro, Inteligência pigarreou na intenção de fazer-se notado. E notou a tal criatura que estava prestes a enxotar docemente. Uma mulher-menina, de pele demasiado branca e cabelos de ébano que caiam em ondas sobre seus ombros. Esqueceu de todo o discurso e não conseguiu dirigir-lhe a palavra. Ela virou a cabeça para enxergar a sombra furtiva que se lhe aproximava e fitou Inteligência. Este tentou sondar os olhos pequenos e fugidios da garota, mas não conseguia desvendar-lhes sentido algum. Perdeu o verbo! Sem saber o que fazer, recuou! Deu alguns passos de ré, virou-se rapidamente – quase tropeçando – e começou a debandar, apressado. Depois de cinco ou seis passos meio trôpegos, Inteligência pára como se esbarrasse num muro. Finca seus pés no chão, respira fundo, organiza algumas frases de efeito e volta ao banco improvisado. Mas improviso, ao que parecia, não era muito com ele:

- Er... Bem... É que eu... O que eu queria era... Assim...

- Intuição! - Diz com fala rápida a menina, que fazia um esforço de Hércules para não rir do curioso espetáculo apresentado pelo rapaz. Adorava rir.

- Como!? - devolve o rapaz.

- É como me chamam! Intuição!

- Mas que belo nome! Diferente, é verdade. Mas ainda sim, belo.

- E você!? Seria...?

- Ah, sim. Inteligência eu sou. Já deve ter ouvido falar muito de mim, isto é fato, mas não me custa nada trazer ainda mais esclarecimento para ti, jovem. Sou o douto dos doutos, o sábio dos sábios, o corifeu dos corifeus. Conheço tudo sobre as ciências – incluindo as furadas ciências sociais. Não tenho preconceitos! – sou especialista em todas as artes, visitei templos, sinagogas e pagodes, travei duelos com todos os gigantes da filosofia, construí sistemas e teorias sobre...

Bastou trocar algumas palavras com Inteligência e já percebeu sua engraçada compulsão em sempre fazer a conversa retornar para si. Conteu o riso, mas não conseguiu deixar de imaginar o homem tendo orgasmos ao resolver matemáticas. Estava achando insuportavelmente desinteressante toda aquela ladainha do doutor mas, não querendo magoá-lo, fez cara de quem não entendia muito bem o que ele dizia, na esperança de que o mesmo parasse sua lalação. Funcionou:

- Algum problema, criança? – falou Inteligência.

- Onanismo mental! – replicou ela a primeira coisa que lhe trouxe a memória.

- Como disse!?

- Onanismo. Masturbação. Quebrar uma, entende? Bater...

- Eu sei muito bem o que é onanismo, mocinha. Não precisa me explicar. Nem fazer gestos a respeito. Eu só... só não consegui observar com clareza e distinção o que você, em verdade, quis dizer.

- Hum... Como posso dizer? – Intuição, num enorme esforço para florear a simplicidade de seu pensamento, soltou! Você parece se perder em suas próprias idéias. Esqueceu que eu estava aqui e começou a falar sozinho. Ou pra todo o Universo. Ou pra ninguém. Dá tudo na mesma.

Inteligência fez cara de desinteresse às colocações da menina quando – em verdade, e isto Intuição sabia – ele não tinha entendido muito bem o que ela lhe jogou. Alguns segundos de silêncio decorreram, mas Inteligência não gostava muito dele. Não gostava de coisas que não lhe diziam nada. Então o quebrou:

- Serei claro, direto e objetivo, minha dama. Todas as terças-feiras, eu desperto cedo, alongo-me durante alguns minutos, preparo dois ovos mexidos, com pouco sal, côo um café forte, mas bem doce, tomo um banho demorado e seleciono, rapidamente, o que vestir após minha frugal refeição. Empilho os cinco ou seis livros que semanalmente retiro da biblioteca,...

A menina não quis atrapalhar o monólogo do bom moço e voltou a sua atividade de antes: olhar o sol e as nuvens que, seguidas umas das outras, formavam um curioso desfile de animaizinhos de pelúcia. O céu projetado na Terra! No entanto, foi interrompida uma vez mais:

- Você está a me escutar, mocinha!?

- Ora! Falava comigo?

- Que incompreensível é você, menina! Não liga para o que os outros dizem?

Desta vez, quis quebrar o nariz do moço. Mas resolveu falar no idioma dele:

- Serei clara, direta e objetiva. Primeiro, pára de falar como um idoso esclerosado! Sou tão ou mais velha que você! Segundo, pára de falar sozinho e vê se escuta o que tenho a te dizer! Terceiro...

Uma longa pausa se fez...

- Pois não?

- Sei lá! Não sou muito boa em esquematizar minhas impressões. Mas – enfim! – seja um pouco mais sucinto. Só peço um pouco mais de simplicidade. Ou, então, cala a boca!

Inteligência se espantou por tão pungente comentário ter sido feito com um sorriso agridoce nos lábios da garota. Além disso, ninguém nunca tinha refutado suas conclusões nem tampouco o mandado ficar em silêncio. Um “cala a boca” lhe era novidade. A presença daquela menina se lhe afigurava como incômoda. Era uma insolente incômoda, esta jovem! Num trabalho de síntese, Inteligência reuniu suas opiniões numa frase relativamente curta. Ei-la:

- Escuta-me! Todas as terças-feiras, eu venho até esta clareira para me deleitar em meus estudos sobre a natureza das coisas. E você, aqui, está a interromper as minhas atividades. Pronto. Falei!

Intuição quis dar-lhe parabéns – sinceramente – pelo seu esforço, mas evitou fazê-lo visando não enfurecer aquele homem que não a compreendia. Disse, com um sorriso desconcertante:

- Posso me levantar e partir se for da sua vontade, mas não sem antes fazer duas colocações.

- Faça-as!

- Ah, vou deixar pra lá palavrinhas bonitas! Esse lance aí de “natureza das coisas”... Coisa de gente pedante, sabe? E...

- Defina pedantismo.

- Hum...

- Posso criar uma definição positiva, se for de seu interesse. Pedante não seria aquele que, rico em saberes, é malquisto por aqueles de pouca profundeza espiritual?

- Gostei não!

- Então, defino o pedante como aquele que, conhecendo a verdadeira natureza das coisas, costuma dar lições aos demais. Impô-las, se você preferir, mas ainda tenho predileção pelo “dar lições”...

- Essa eu achei vaga demais. Deixa ver, aqui... Pedante como aquele que quer se impôr à natureza, mas dela mesma nada sabe... O pedante quer dar lições à natureza! Acho a minha mais legal!

- Está dizendo que nada sei sobre as coisas que falo?

- Não! Só disse que você nada sabe sobre as coisas que acha falar.

E sorriu.

- Mas...

- Ainda não terminei. Faltei falar da segunda parte. A mais importante, por sinal.

- Que seria...?

- O dia de hoje! Hoje é quarta, não terça...

E sorriu, mais uma vez. Levantou-se e foi-se embora...

III

Inteligência chegou em casa, abismado...

Como pôde trocar a Terça pela Quarta!?!?!?

...

IV

Inteligência despertou cedo, alongou-se durante alguns minutos, preparou dois ovos mexidos, com pouco sal, acordou dois pães adormecidos e coou um café forte, mas bem doce. Detalhe. Não era terça-feira! Resolvera ir à biblioteca na quarta, seguindo uma esperança vaga e bruxuleante de encontrar mais uma vez àquela menina. Não conseguia focar-se em seus estudos rotineiros, pois a imagem da outra se fazia presente a todo momento em sua consciência. Sentia-se doer por não conseguir mais se debruçar sobre as letras impressas. Sentia-se doer por não poder compreender àquela menina. Sabia que estava apaixonado, mas não ousou colocar isto em linguagem. Preferia pensar que, encontrando-a novamente e entendendo seus desígnios, a paz seria novamente derramada sobre ele.

Retornando à árvore do conhecimento, lá estava Intuição. Sentada à beira d´água, tinha em mãos um bloco de notas e um lápis. Estava a fazer desenhos e rabiscos da paisagem local, mas nunca terminava algum. Fechou o caderno e deu um sobressalto quando notou a aproximação de Inteligência:

- Nem se incomode que eu já estou de saída...

- Não, não, por favor, fique. Era com você mesma que eu queria tratar.

- Hum... Tá bom, então! Pode falar.

- Er... Bem... É que eu... O que eu queria era...

- Se isto é uma cantada, não está funcionando muito...

Soltou a menina, com um sorriso angélico que não casava com a situação.

- Poderia ser um pouco menos sucinta? Preciso criar a atmosfera adequada para o meu discurso.

- E por que não cria um discurso pra atmosfera de agora? – Aproximou-se do jovem, mantendo uma distância de, no máximo, um palmo entre ambos, e emendou – Diz aí! O que você quer?

- Quero... quero você! O que faço para ter você em meus braços?

- Ter alguém nos braços não é muito diferente do que ter alguém nas mãos...

- Preciso ter você. Necessito da tua companhia. Não tens piedade da minha pessoa?

- Hum... Não muito...

- O que você quer que eu faça para que, juntos, possamos ficar?

- Você poderia parar de falar frases tão salpicadas de vírgulas...

- Posso me esforçar nisso, se você quiser...

- Foi uma piada, querido. Olha só, não quero exigir nada de você.

- Então, você aceita que eu a possua!?

- Hum... Não!

Antes que o silêncio se tornasse constrangedor, Inteligência irrompeu:

- O que é preciso para a nossa união, então?

- Sei lá! Tempo, talvez...

- Tempo...

Inteligência olhou para o lago, viu o sol refletido e desapareceu a passos largos...

V

Uma semana depois, Inteligência retorna à árvore do conhecimento. Intuição não estava lá...

VI

Inteligência acostumou-se a visitar a biblioteca também às quartas-feiras. Sentia-se realizado em sua interioridade última por aprender a manusear, tão habilmente, os dias da semana. Mas ainda não tinha se acostumado àquela atendente a lhe perseguir com as pupilas. Não gostava muito de ser analisado, o homem. Cavoucando fundo em suas lembranças, tentou encontrar algum ponto a servir de nexo àqueles olhares, esperando que alguma Razão cósmica lhe revelasse os Seus desígnios para com ele. Talvez ele estivesse a dever dinheiro à criatura, só podia! Mas era um sujeito muito sério com os números e, disto, ele não se esqueceria.

Desceu os 7 degraus para se chegar à árvore do conhecimento e, surpreso, encontrou lá a moça Intuição. Apressou o passo, numa mistura quase cômica de Largo e Presto. Expressava uma alegria boba ao ver a menina, mas nem tanto. Continuava o seu andamento quando, meio afobado, lhe dirigiu a palavra:

- Onde esteve, estas Quartas-feiras todas!? Vim aqui, ao teu encontro, mas nunca te encontrava! Gostaria de uma resposta tua, menina. Vamos, vamos, responde-me!

- Continua falador como sempre... Vê só... Eu nunca disse que ficaria aqui à te esperar, disse?

Verdade. E, por ser verdade, Inteligência se calou. Ela, piedosa do bom moço, acariciou-lhe a face e o ego.

- Fica assim, não... Olha só, vou te dar uma dica que poucos, acredito, devem conhecer: se você queria se encontrar, se esbarrar, se chocar comigo, por que não me falou? Por que não falou a mim!?

Ele parou e começou a analisar aquele novo princípio geral e categórico que lhe grafava o corpo. Ela riu, embora não estivesse achando a graça daquela cena.

- Façamos o seguinte, minha dama! Disse que queria tempo, certo? Pois é justamente isto que lhe peço. Dá-me um tempo e te construirei as maiores maravilhas da humanidade. Aguarda-me!

- Espera aí! Eu...

Inteligência não deixou a graça falar e foi embora...

VII

O tempo passou. Inteligência, no entanto, não soube precisar quanto. O mundo muito mudou desde o seu último contato com Intuição, mas ele sempre foi alheio aos entes intramundanos. Tinha preparado grandiosos presentes, e já conseguia ver o momento em que os mostraria à graciosa menina. Saboreava seu desjejum. Va-ga-ro-sa-men-te. Nunca, em toda a sua história de cafés da manhã, tinha passado tanto tempo à mesa. Tomou um banho ligeiro, para compensar, mas discompensou ao escolher um vestuário adequado à ocasião. Saltou os degraus da biblioteca e saiu correndo para a árvore do conhecimento. Abobalhado, deu de cara com o tronco vazio. Desolado, ficou imóvel, como em todos os momentos nos quais não sabia se mover. Olhava para um lado e para o outro, maquinalmente. Intuição, que, num banco de madeira bem em frente ao lago via todo aquele débil desenrolar, não riu nem se apiedou do homem. Estava era indignada com a cegueira de Inteligência e, assim, formulou sua primeira lei universal: Inteligência é burro demais! Demais! DEMAIS!!!

Levantou-se para ir embora mas, ao notar seu movimento, o moço exclamou:

- Ah! Aí está você, minha cara!

- Escuta! Eu...

- Vem, vem! Tenho muitas coisas a te mostrar, minha menina!

E interrompendo-a mais uma vez, levou-a velozmente a seu primeiro presente. Um castelo. Um castelo! Suas portas eram de prata, as janelas eram reforçadas com pedras de diamante e as cúpulas, dantescamente altas, eram cobertas com ouro. As torres do casarão eram tão altas que mal se podia ver-lhes as extremidades. Atingiam o céu – pensou Intuição – mas nada tinham de ver com ela, cá na Terra. Inteligência, animado, abriu as portas do castelo para lhe mostrar o interior. Orgulhava-se dos móveis de carvalho, dos baús de esmeraldas, dos vasos de porcelana. Intuição entrou na construção. Achou-a muito grande! E abafada! E detalhada demais!

- Pra quê tudo isso!?

- Para você, minha dama!

- Minha dama, minha cara, minha menina... Não sou sua! E responda o que eu lhe perguntei! Pra quê tudo isso?

- Ora, não gostou do salão? Dos armários? Dos baús? Dos vasos?

- Sei lá! Eles são muito pouco... muito pouco vazios.

- Fale mais sobre.

- É tudo muito legal. Muito bonito, mesmo. Mas... Salões, armários, baús, vasos... É o vazio deles que é importante... Não as coisinhas brilhantes que a gente coloca ao redor. As coisas são o vazio! Cadê o vazio daqui?

Inteligência fez uma pose reflexiva. Mas, não entendendo, passou ao próximo tópico.

- Tudo bem, tudo bem! Venha conhecer, então, seus outros presentes.

Ele tentou puxá-la pelo braço, mas num movimento languidamente fugidio, Intuição passou para o outro lado dele. Foram à porta apontada por ele e entraram. Era uma sala circular, cujas paredes esculpidas em baixo relevo representavam a figura dum homem correndo – vários homens impressos e expressos em posições diferentes, um após outro, davam a sensação de um único homem em movimento – e, no centro, a estátua duma bela mulher. Intuição.

- Quem é esta, aí no meio?

- Você!

- Não! Eu tô aqui, do seu lado! Quem é essa daí?

- Ora, você!

- Enfim... E que sala é essa?

- Este é o meu amor por você. Não vê que estou a correr, desesperadamente, em busca de ti?

Pela primeira vez, ela tinha ficado totalmente indiferente a um comentário de Inteligência. Antes que pudesse exprimir qualquer coisa, o outro saiu da sala e começou a subir as escadarias, rumo aos andares superiores. Chamou-a com um movimento de braço, para que a seguisse. Foram até uma sala de jantar, adornada com um quadro enorme que tomava toda a parede em frente à porta. Era uma pintura da árvore do conhecimento, com ela sentada no velho madeiro e ele de pé a ministrar-lhe alguma lição. A moça ia até falar alguma coisa, mas desistiu. Resolveu sair correndo mas, como desconhecia as arquiteturas construídas por Inteligência, acabou por se perder. Caiu numa biblioteca enorme, cujas estantes abarrotadas de livros e mofo iam até o telhado. Inteligência entrou logo depois.

- Maravilhosa, não é!?

- Não diga que escreveu tudo isso pra mim?

- Não, não! Como poderia eu, ao escrever livros, provar o meu amor? Que comentário estranho, o seu...

- Podemos sair daqui, então?

- Ainda não! Não lhe escrevi um livro mas lhe preparei um poema! Está aqui em algum lugar...

Intuição sorriu gostosamente. Inteligência logo dispersou seu devaneio.

- Aqui está!

E lhe atirou um calhamaço enorme, em papel manteiga.

- Que merda é essa!?!?!?

- Ora, é o meu poema para você. Exatas 1024 estrofes alexandrinas, com rimas ricas em todos os versos e chaves de ouro a fechar todos os parágrafos. A narrativa, deixando minha modéstia de lado, é igualmente fantástica e conta a história de...

A moça notou que havia um piano no canto esquerdo do aposento e foi até lá. Não sabia tocar, mas adorava martelar as coisas. Deixou o menino lá, falando sozinho. Era o que ele estava fazendo desde o começo, afinal. Sentou-se num banquinho circular, levantou a tampa do piano, retirou-lhe o pano vermelho a cobrir-lhe as teclas e começou a vislumbrar aquela imensidão de possibilidades. Inteligência parou a seu lado, alguns segundos depois.

- Gostou do Steinway?

- É o nome do seu piano!?

- É a linhagem dele! O Steinway, em minha relevante opinião, é um dos melhores pianos de cauda já concebidos. Todos os seus instrumentos são milimetricamente mensurados, hermeticamente pesados e, óbvio, são estupidamente caros. O que é bom não dura pouco, mas é – infelizmente – para poucos. Mas... Como sabia que seu próximo presente era uma música?

Intuição ficou esperançosa. Por mais longa e enfadonha que seja a música feita para ela, ainda assim era uma música feita para ela! Com um movimento nos olhos, Inteligência pediu para a moça ceder-lhe o lugar. Ela levantou-se, ansiosa. Ele, então, girou o banco até que este revelasse um receptáculo. Retirou de lá um amontoado de papéis. E entregou a ela.

- Não me diga que...

- Aí está a sua música!

E sorriu amarelamente. Intuição não quis mais ficar naquele espaço que nada tinha de ver com ela e, ligeira, tentou sair da sala. Inteligência foi detê-la e, esbarrando-se, ambos caíram ao chão. Ficaram por alguns segundos caídos no chão, um sobre o outro, como que numa dança imóvel. Intuição estava por cima, desta vez. Fitou-o nos olhos. Inteligência falou-lhe, quase que num sussuro:

- Você... você é pesada!

A menina se levantou. Ajeitou as vestimentas. Fez um aceno de despedida com a cabeça e abandonou a sala. Antes que ela se fosse por completo, Inteligência gritou:

- Eu só queria ter você comigo!!!

E esperou resposta.

- Você sempre me teve, idiota! Sempre me teve ao seu lado. Mas sua grandeza me sombreia e sua retórica doce não me deixa falar. Você nunca olhou pra mim! Eu é que sempre te busquei durante todo o tempo, mas você estava sempre ocupado com suas próprias coisas.

- Mas...

- Mas é o caralho! Você fez um castelo enorme, esculturas, pinturas... Mas e eu!? Onde entro nessa história!? Você diz que me quer a seu lado, mas eu só habito ou suas lembranças empoeiradas ou seu futuro ideal. Você nunca me deixa te dar nada. Nunca me olha direito quando está comigo.

Silêncio.

- Agora, por exemplo! Olhar pra mim, agora, é o melhor presente que você pode me dar. Só agora você pode fazer coisas em mim, pra mim, comigo. Esse é o presente que eu quero. Esse é o presente.

Ele chorou.

Ela sorriu.

Eles riram...

VIII

(...)

IX

Era uma sexta-feira. Inteligência, na biblioteca, recebeu novos olhares e sorrisos da atendente. Ele a olhou de volta. E sorriu...