Derrame. Paralisia. Desespero. Jean-Do, editor da Elle, é homem de imagens, aparências e movimentos que - inesperadamente! - se encontra enclausurado em sua própria carne. Escafandro! Seu pensamento quer ganhar o discurso; seus afetos, a ação; ambos querem correr, saltar e voar tal qual o verme melindroso a habitar o casulo. Borboleta! Longe das moralinas, o Sr. Bauby não faz de seu corpo frágil e indefeso um motivo justo para piedades e dramas afins. Afinal, não é a matéria que nos interessa - para longe com as quantidades! - mas os dois pilares que dão sentido à existência de nosso morimbundo: memória e imaginação! Com a primeira, fundamenta! É na memória que o corpo se liga ao passado, ao que já foi presente mas que - de alguma maneira - ainda é. Com a segunda, rompe! A imaginação é a quebra mesma dos esquemas pré-vistos e re-petitivos, lançamento rumo a um futuro que se faz no agora! O trampolim e o salto! E, mesmo na imobilidade débil de nosso agonista, vemos o seu tempo passar e passamos com ele. Passamos não rumo a um passado que já se desfez, mas a uma temporalidade perdida que ainda dura em nós. Vida! Jean-Do, mesmo sem corpo, é vida! É arte que não imita, mas produz! É movimento grácil, mesmo que em seu balé - belo, sôfrego e apaixonante - só hajam piscadelas...
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5 comentários:
memória e imaginação!
interessante ver como conseguimos explicá-las e definí-las de um jeito tão bonitinho e delimitado mas... (sempre existe um mas!!! rsrsrs) ao menos p mim, é bem difícil enxergá-las separadamente no tocante à maneira como elas aparecem na dimensão registro-controle. até onde é memória e a partir de quando é imaginação? será q elas se separam? entendo q elas se completam e tanto quanto não existimos sem elas, uma não flui sem a outra!
Agonista! Boa!
Luiz Paulo
Jean-Do: - e isso aqui é vida?!
um paciente de hemodialise, uma vez, disse: - hoje em dia até morrer é dificil.
como tanta coisa se intrinca... e faz com que Jean-Do crie um novo modo de funcionamento assim tão intrigante.
ps: lindo texto, james.
reconheço essa forma de escrever ;)
e esses pontos assim!
:*
"-hoje em dia até morrer é difícil". Lendo essa frase, penso que o discurso, muitas vezes, pode se sobrepor ao viver 0ou a verdade em curso do viver. Jean-Do questiona a vida e nisso começa a aprender e ensinar que uma outra vida é possível. Ele deixa de escutar aquilo que seu pensamento anunciava para nós, apenas. Tivesse ele a linguagem que temos, teria dito tanto quanto com um olho apenas?
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